Quem são os celtas?

Por  Luciana Cavalcanti (Ceirseach Luigne Brigante)

Essa é uma questão difícil de responder e tentarei fazer isso de forma simples, porém conteudática. A palavra celta é derivada da ancestral Keltoi que os gregos, segundo escritos de Heródoto, usaram para denominar as tribos ao norte deles no continente europeu. Para estudiosos modernos, a palavra distingue diferentes culturas, do mesmo modo que foi usada no passado para denominar diferentes tribos, referindo-se a cultura e não ao povo geograficamente delimitado nem geneticamente conectado. O termo celta, seja gaélico ou bretão, não se refere à raça, nem a nenhum cerceamento geográfico. Não existe o chamado "sangue celta". Celta é uma classificação cultural que não tem nada relação com genética, nacionalidade ou pureza racial.
Os keltoi provavelmente se denominavam dessa maneira, mas o nome era desconhecido de seus vizinhos, pois não aparece exceto nos relatos gregos do séc. V ou VI a.e.c., e refere-se a uma população ocupante do Alto Danubio, Alemanha. A latinização da palavra deu origem ao termo Celtae, ainda que os romanos preferissem os termos  galli/galatai (gauleses) que acabaram sendo usados como sinônimos.
Não se pode afirmar que idioma os Keltoi falavam.O que ainda hoje é utilizado para definir essa cultura, em meio a outras culturas da mesma região é a cultura material com os estilos artísticos diferenciados. São considerados celtas artefatos a partir de uma cultura chamada Urnifield (povo do campo de urnas) que, digamos, evoluiu para cultura Hallstatt.Podemos afirmar que eram um povo diversificado, de origem indo-européia, contemporâneos dos romanos, iberos, ilírios, trácios, dácios, lígures, gregos, citas, germanos e gregos.2
Na Idade do Bronze, formaram sociedades hierárquicas, lideradas por chefes clanicos, suntuosa, cuja riqueza e refinamento só se compara à egípcia (pelo uso do ouro), essa cultura, caracterizada por uma arte geometrizada retilínea, ganhou o nome de Hallstatt, título de uma necrópole nos Alpes austríacos escavada entre 1846 e 1863, e que durou até o princípio da Idade do ferro, estendendo-se pro sul da Alemanha e Boemia, Suiça, França, Espanha, Portugal, sul da Bretanha e Países Baixos. Não se trata de colonização, mas influencia comercial. Essa cultura entrou em declínio em época do surgimento de outra cultura impressionante identificada como Lá Téne.
O estilo Lá Téne se baseia nos padrões sinuosos, ancestrais dos “nós entrelaçados celtas” que hoje se espalharam por todo tipo de souvenir. Ainda que esses padrões modernos tenham mais de germânico do que celta, em La Téne podemos ver os primórdios dessas formas orgânicas originais, um apreço pela estilização animal e requintada. Certamente serviu de base para a art nouveuas e é definitivamente uma arte de cunho mágico-simbólico.
Não se pode afirmar que idiomas esses povos que viveram edifundiram a cultura Lá Téne e Hallstatt falavam, mas o idioma se transformou num importante marcador atual.
São considerados celtas hoje em dia, países das quais, certa porção da população fala algum idioma celta, fato que explica a designação dos "sete países celtas" enquanto na verdade, se o critério fosse habitação primitiva dos celtas, obviamente muito mais países entrariam nessa lista. Esse critério é recente (séc .XIX), o que fez com que a França, por exemplo, não fosse mais considerada “celta”, e outros países, como a própria Irlanda, fosse “convencida” de sua origem céltica. Em tempos antigos, os povos que falavam línguas celtas eram belgas, celtiberos, lusitanos, gálatas, bretões, gauleses, escoceses e manceses e irlandeses antigos.
 Existem atualmente dois troncos principais de língua céltica sendo falados
O primeiro tronco é o Gaélico encontrado na Irlanda (Eriu), Escócia (Alba) e Ilha de Man (Mannin). O segundo tronco é o Bretão, encontrado em Gales (Cymru), Cornualha (Kernow) e Bretanha (Breizh).

Na verdade a relação dos idomas com uma cultura celta data de 1700, mas essa relação foi obscurecida pelos anseios políticos de construção de uma identidade nacional, demarcação territorial e ao fascínio pela inauguração do conceito de raça que fez com que o temro celta servisse, no século XIX,de pano de funda para todas essas disputas políticas e também especulações religiosas de origem mística nesses territórios.(Nesse contexto por exemplo, Hippolyte Léon Denizard Rivail adotara o que cria ser seu nome “druida” -Alan Kardec- e daria inicio a uma nova religião baseada numa antiga fé, aliada aos fenômeno das mesas rodantes e cristianismo).
Era a Celtomania: Na atmosfera do romantismo, em busca de uma identidade nacional autêntica, uma paixão pela literatura e cultura celta surgem em toda Europa. Inevitavelmente, na ausência de um sistema científico de classificação para construir um panorama cronológico do passado, os investigadores compactaram o material remanescente dos habitantes ancestrais da Europa, de modo tudo que era aparentemente pré-romano, como se tudo pertencesse ao mesmo horizonte cultural. Assim os druidas, Stonehenge e os celtas se tornaram, segundo a Dra. Miranda Green, erroneamente intrincados e assim permanece até hoje.
A celtomania no entanto, entre as limitações e atropelos da época, foi o que trouxe o interesse pela cultura celta para a nossa época. Não acho que devemos nos limitar a condenar tais estudos pelo romantismo e entusiasmo que geraram algumas fantasias e invenções bem intencionadas, do mesmo modo que os relatos gregos e romanos também tem de ser lidos com critério, pois atendiam aos propósitos da época sem interesse antropológico estrito.

O termo céltico não é sinônimo dos termos irlandês, escocês ou galês, etc. O celta relaciona a cultura e específico idioma enquanto os outros designam a nacionalidade. Celta é uma descrição cultural e seus laços são definidos pelo idioma, que é a mais forte característica para enquadrar todas as tribos a qual o termo foi atribuído, num só grupo.

Distribuição dos celtas na Europa. A área verde sugere a possível extensão da área céltica por volta de 1000 a.C. A área laranja indica a região do nascimento da cultura "La Tène" e a área vermelha indica a região sob influência céltica por volta de 400 a.C

O uso da terminologia céltica como pano de fundo para problemas políticos, alegando pureza racial é puro merchandising, que não encontra embasamento histórico nenhum. O mesmo pode ser afirmado no que diz respeito à associação do termo a reivindicação de pureza e extremismo racial. O termo foi aplicado desde o início, a uma diversidade de tribos com idiomas e hábitos aparentados, do que nunca foi um povo homogêneo unificado, e John Haywood afirma critica as tentativas de alguns estudiosos de  impor a estes uma unidade artificial, enquanto o que havia eram grupos diversificados com compartilhamentos significantes entre si.
                                                                                Luciana Cavalcanti (Ceirseach Luigne Brigante)

Para saber mais sobre os celtas eu recomendo:
1 ARNOLD,Betina e GIBSON, Blair   Celtic chiefdom, celtic state.New directions  in archeology Cambridge University Press 1995.
2 HAYWOOD, John Os celtas da Idade do Bronze aos nossos dias.
3 POWELL, T.G.E The Celts ed Thames ans Hudson 1980 (disponível em português)

Paraconhecer os artefatos Hallstatt Lá Téne entre outros:

1 http://www.unc.edu/celtic/

Para catequisar as crianças rsrs

1 PLACE,Robin Povos dos Passados Os celtas Ed Melhoramentos 1977

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