sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Grogoch

O Grogoch é uma fada irlandesa que tem suas origens numa terra próxima: a Escócia. Talvez por isso sua presença seja mais notada ao norte da ilha irlandesa, em especial ao norte de Antrim, Ilha Rathlin e partes de Donegal. Essa fada também pode ser vista com frequencia na Ilha de Man (Não Ilha do Homem como algumas pessoas dizem).
O grogoch é visto como um homem de avançada idade, do tamanho de uma criança e coberto de pelo, geralmente avermelhado. E assim como o Leprechaun, não há evidência de fêmeas de sua

espécie. Essa fada é suja, de pelo emaranhado... Já deu pra notar que não é uma fada que cuida muito de sua higiene pessoal. Inclusive, sua presença aparece em expressões como "parecer um velho grogoch" quando uma criança tem um cabelo um pouco rebelde nas proximidades de Waterfoot, no condado de Antrim. Pra mim, isso já é bullying! Campanha pra shampooo pra cabelos de grogoch já!!!
As casas dos grogoch são ditas como cavernas, tocas ou qualquer tipo de abertura ou fenda na terra. Também associam as chamadas "leaning stones" (2 pedras verticais inclinadas uma sobre a outra) como suas casas. Há relatos de que ao entardecer, em algumas partes do norte da Irlanda em que hajam essas pedras, é possível ver um grogoch sentado próximo a elas, fumando, relaxando... cabelo grosso e emaranhado, sentado ao pôr-do-sol relaxando e apreciando a vista: o grogoch é um surfista!!! 
Piadas a parte, os grogochs são, ao contrário de várias outras fadas irlandesas, benevolentes, de boas maneiras e não gosta de pregar peças em humanos. E por essa natureza tão afável, é possível tê-los como bons ajudantes em trabalhos domésticos. Apesar de sua área de atuação ser fora da casa como trabalhar a terra, arrumar lenha ou simplesmente carregar coisas, ele também pode ser encontrado dentro de casa, ajudando uma pessoa em seus trabalhos, especialmente na cozinha e limpeza. E por ser bastante hiperativo, pode às vezes atrapalhar quem estiver cozinhando ou realizando qualquer outra atividade. Porém, o grogoch, como todas as outras fadas, tem o poder de ficar invisível, monstrando-se, somente, para os humanos que confiam e que não são preguiçosos. Com os preguiçosos, ele costuma acordá-los pulando em sua cama, mexendo em seus rostos ou simplesmente cutucando-os até que levantem e façam alguma coisa produtiva.
Diz-se que como outras fadas da terra, o grogoch não aceita presentes pelo seu trabalho, podendo ficar estremamente triste se os receber a ponto de deixar a casa e nunca mais voltar. No entanto, uma caneca de creme já o satisfaz.
Quem conhece as histórias de Harry Potter já deve ter associado o grogoch aos elfos domésticos, porém, uma curiosidade é que um outro nome pra esta fada é "gruagach". Uma típica fada escocesa, associada aos Brownies (não o bolo, mas o ser) que tem exatamente a mesma função de um elfo doméstico de Hogwarts. Inclusive, todo castelo tem seu gruagach e na cozinha, próximo ao fogo, um assento para que a fada possa sentar. Há uma casa na Escócia que acreditava ser assombrada por uma dessas fadas até o início do século XX e um dos cômodos da casa foi chamado por séculos de "seòmar bhrùnaidh" (Quarto do Brownie em gaélico escocês). Mas ao contrário do grogoch, o gruagach escocês é unicamente doméstico, e bem asseado.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Pooka

A Pooka (ou Púca em irlandês, que significa "espectro", "fantasma"...) é uma das fadas mais temidas pelos irlandeses por ser uma dos sídhe mais maliciosos, "badass" e por poder assumir as mais assustadoras formas possíveis e imagináveis e também as mais sedutoras.
Em áreas remotas de Down, esta fada se mostra um pequeno goblin deformado que exige parte da

plantação ao final da colheita. Em partes de Laois, a pooka assume a forma de um ser espectral que aterroriza todos que estejam fora de suas casas à noite. Em Waterford e Wexford, aparece como uma águia com enormes asas. Em Roscommon, como um bode negro com chifres curvados. Ou como um cavalo negro que tem uma fumaça incandescente saindo de seus olhos e boca.
Independente de como apareça, a púca tem a tendência a querer machucar humanos, seja física ou psicologicamente. Tomando como vítima aqueles que perambulam à noite pelas estradas. Quem já teve a oportunidade de andar a pé por essas estradinhas do interior irlandês sabe que se sente o tempo todo olhos nos vigiando. Existem contos que relatam viajantes que se perdiam e quando encontrados diante de uma casa, eram convidados a entrar e passar a noite só para na manhã seguinte acordar a beira de um precipício ou simplesmente não acordar. Tudo pelo poder de ilusionar os pobres mortais.
Porém, como sempre, muitos folcloristas descrevem ações da pooka que não condizem com sua natureza maléfica. Existe um caso recolhido por Lady Wilde que conta a história de Padraig, filho de um fazendeiro, que um dia percebeu a presença invisível de uma pooka nas redondezas. Padrig então o chamou e ofereceu seu casaco à fada. A fada apareceu na forma de um jovem touro e disse para o garoto ir ao moinho à noite. Daquele dia em diante, as pookas iam secretamente à noite realizar o trabalho de moer o milho até formar farinha, até o dia em que Padrig deu-lhes de presente uma peça de roupa feita de seda. Com este presente, os pookas nunca mais voltaram ao moinho, mas mesmo assim, o fazendeiro já tinha conseguido bastante dinheiro para dar uma boa educação a seu filho e se aposentar. Quando Padrig se casou, as fadas deixaram para ele um presente, um cálice de ouro cheio de um líquido desconhecido, mas que assegurou sua felicidade por toda a vida.
Algumas outras vezes, a pooka, avisa os humanos sobre perigos ou realiza profecias quando apropriado. Diz-se que numa colina de Leinster, um lustroso garanhão surgiu num dia de novembro e que respondia de forma própria e inteligente a todos sobre qualquer assunto até novembro do ano seguinte. As pessoas costumavam levar presentes e deixar aos pés da colina.
E esta é uma das formas em que o pooka mais se apresenta, um grande cavalo negro. Até bem recentemente, ao sul de Fermanagh, uma tradição dizia que este mesmo cavalo falante surgia durante o Bilberry Sunday (uma espécie de festival da colheita que acontecia ao final do mês de julho em que se juntava todos os mirtilhos - fraochán em irlandês.)
O Ard Rí (O Grande Rei), Brian Boru, foi o único a controlar as pooka. Brian Boru, usando um arreio contendo 3 pelos da calda de um pooka, montou o cavalo mágico e o cavalgou até que o animal se rendesse à sua vontade. O Rei então conseguiu duas promessas da fada: que elas nunca mais atormentariam os cristãos e arruinariam suas propriedades e que nunca mais atacasse outro irlandês (mas os estrangeiros estão permitidos), exceto aqueles que estejam bêbados e/ou fora de suas casas com intenções más. No entanto, parece que estas promessas foram esquecidas ao passar do tempo, pois casos associados ao pooka continuam até hoje.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Changelin

Aparentemente este Sí não anda mais aparecendo no mundo humano, mas por via das dúvidas, vamos conhecê-lo. A crença neles parece ter durado até o final de 1800 na Irlanda, quando uma mulher (Bríd Ní Chléirigh ou Bridget Cleary) foi morta pelo marido porque ele acreditava que ela era um changeling.
O Changeling é na verdade um nome um tanto vago. Se trata nada mais do que quando uma fada troca seu filho por uma criança humana. Ao que tudo indica, com a chegada do Cristianismo e com a evolução do pensamento científico no mundo, as fadas se recolheram para o subterrâneo já que os humanos não acreditavam mais nelas. E com isso, os sídhe ficaram fracos, não conseguindo mais ter filhos fortes e saudáveis. Assim, eles observam o mundo humano atrás de bebês não batizados ou cujos pais façam muito alarde pela beleza ou habilidades. A criança humana é levada para o Outro Mundo para ser criado pelas fadas e a "fada-bebê", deixada na casa humana, tem o dom de trazer problemas para a família.
O Changeling (a criança que fica) pode ser também um objeto inanimado enfeitiçado pelas fadas afim de enganar os humanos enquanto o verdadeiro filho é cuidado pelas fadas. Neste caso, recebe o nome de "stock". Durante muitos anos, teve-se como regra algumas características físicas e psicológicas para identificar um changeling. Coisas como olhos muito negros, deformidades físicas, crianças muito caladas e tímidas... outra característica comum seria, desta vez positiva, uma apitidão incomum para a música. Ao crescerem, os changeling encontrarão um instrumento musical pelo qual se interessem mais (geralmente o violino ou a gaita de foles irlandesa) e o tocará tão brilhantemente que os humanos que o ouçam se enfeitiçarão tamanha a beleza. O Changeling também é reconhecido pela sua gula, comendo tudo o que se coloca diante dele e ainda assim não se saciando.
Os changelings não costumam viver por muito tempo, alcançando 2 ou 3 anos geralmente. Mas se por algum motivo seu túmulo seja aberto, apenas um graveto ou um galho de carvalho será encontrado dentro do seu caixão. Alguns vivem mais, porém não passam da adolescência.
Existem algumas práticas um tanto quanto bizarras para se expulsar um changeling e recuperar a criança humana como fazê-la ingerir um preparado de ervas específicas que queimará o interior da fada, fazendo com que ela volte para o seu reino. Outro é conseguir enganar a fada fazendo com que revele sua verdadeira natureza.
Mas a melhor maneira é prevenir. Os antigos batizavam logo suas crianças e como garantia, deixavam um crucifixo benzido sobre o berço, ou pregos de ferro ao redor da cama da criança. Cobrir a criança com uma peça da roupa do pai enquanto dorme também era uma maneira de se prevenir da troca.
Existe um relato de um changeling na região do condado de Fermanagh:

"Eu vi um changeling uma vez. Ele vivia com dois irmãos mais velhos além de Dog's Well e parecia um macaco malformado. Ele tinha 10 ou 11 anos mas quase não conseguia andar, mancava muito. Mas tocava a whistle [um tipo de flauta irlandesa] melhor do que ninguém. Antigas melodias que as pessoas já não lembravam, era tudo o que ele tocava. Então, um dia, ele se foi e nunca soube o que aconteceu com ele."

O changeling é uma criatura muito comum no folclore europeu, presente em terras celtas e escandinávas. Porém também pode ser encontrado na África, em países como a Nigéria ou na Asia, como nas Filipinas.
Se por acaso você acha que se casou com um changeling, não tem muita coisa a fazer agora, né? Pense em como vai ser bom ir visitar os sogros no Outro Mundo! 

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O Grey Man

O Grey Man é uma versão gaélica do Yeti do Himalaia. E assim como sua versão tibetana, o Grey Man é misterioso e sinistro. Em locais ao Oeste da ilha, o Grey Man é conhecido também por "Velho sem ossos". Ao Norte é conhecido por "Brolaghan" (Sem forma).
Acredita-se que na verdade, o Grey Man seja a forma etéria de uma divindade celta do clima, ou deus da tempestade que teria sido adorado pelas comunidades costeiras por volta de 1500a.C.
Por ser tão misterioso, este sí (Sí ou Shee é como se nomeiam as fadas irlandesas de maneira geral)

tem várias formas descritas, podendo ir de uma sombra se movendo em direção ao sol, ou um homem de grandes proporções enrolado numa capa cinza, podendo ser também visto como uma névoa de forma humana habitando o mar ou o avistando sobre uma montanha. Inclusive, há um local no condado de Antrim (Irlanda do Norte) em que há o que se chama de "Grey Man's Path": uma gigantesca pedra que passa por cima de um precipício. As lendas dizem que na verdade seria o local por onde o Grey Man passaria para observar o mar.
Sua forma enevoada pode ser sentida, tanto nas grandes cidades como no campo. O cheiro de sua capa é forte e impregnante, portanto, quando se sente aquele cheiro horroroso no ar, Grey Man no pedaço. No entanto, o Grey Man não é uma criatura adorável e fedorenta. Ele tem prazer com a perda de uma vida humana. E para isso usa sua mágica, enviando névoa e escondendo rochas pela costa para que barcos possam se chocar com elas. Ou pelas estradas, para que os viajantes se percam ou que caiam de precipícios.
Seu poderes atingem qualquer um também dentro de suas casas. Leites azedam, batatas estocadas apodrecem, turfas (usadas como lenha) não acendem quando colocadas no fogo... Diz-se que a causa da "An Gorta Mór" (A Grande Fome, pela metade do século XIX na Irlanda) foi causada pelo Grey Man, mas quem pode ter certeza?
Aparentemente objetos e expressões cristãs tem o poder de afastar esta fada, mas não permanentemente. Voltando com mais força e violência. Por isso marinheiros colocavam medalhas abençoadas na proa dos barcos e fazendeiros, crucifixos entre as pilhas de turfa e batatas. O que pode ainda ser encontrado em algumas áreas interioranas, principalmente nas Gaeltachta (regiões onde o irlandês e os costumes gaélicos ainda sobrevivem com força).
O Grey Man também é uma criatura do folclore escocês, sendo chamado de Am Fear Liath Mòr (O Grande Homem Cinza) que habita o cume da segunda maior montanha do Reino Unido, Ben
Macdui. Um criptozoologista, Karl Shuker, acreditava que o Grey Man era um guardião de um portal interdimensional. Ele afirma isso em seu livro "The Unexplained".
De uma forma ou de outra, o Grey Man aparenta ser uma fada muito ligada ao elemento água, o que dentro do folclore irlandês é um sinal de extremo perigo, já que esse tipo de fada é comumente associado a encantar e induzir humanos a morte. Se estiverem passando por Antrim, tomem cuidado para não se aproximar muito do Lago Dhu (Lough Dhu), já que se diz que é lá que o Grey Man habita.