sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Prece a Bríd pela humanidade

Por Laise Ayres, livremente inspirada na Prece de Cáritas.

Sagrada Bríd, senhora da forja luminosa e do poço escuro,
Mãe querida.
Acende sua chama nos lares, nas mentes e nos corações de todos nós.
Que na sua luz aqueles que passam pela provação encontrem forças,
Que a verdade seja mostrada para aqueles que a buscam,
Que sua inspiração guie aqueles que criam.
Encha de razão as mentes confusas,
E de sabedoria as perdidas.
Que seu colo console aqueles que sofrem,
Dê paz aos que estão em conflito,
E suas mãos calorosas toquem aqueles que sentem dor,
Que por todo lugar sua voz amorosa possa se ouvir.
E que todos os órfãos encontrem um lar,
Todas as crianças encontrem proteção,
Todas as mães tenham seus filhos em segurança,
E tenham como alimentá-los.
Que os viajantes encontrem repouso,
Os doentes a cura,
E os sofredores, esperança.
Que sua bonevolência e proteção estendam-se sobre todos os lares,
E que todos encontrem calor e luminosidade para atravessar a noite escura.
Traga a primavera para todas as nossas vidas, fazendo crescer e frutificar nossas sementes,
Nos auxilie em nossos projetos,
Proteja nossos familiares,
E permita que,
À medida em que trazemos sua calorosa chama para nossas vidas
Nos tornemos faróis na escuridão.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

As Várias Árvores da Floresta IV - Fê Peretti

A próxima entrevista é especial para mim, pois foi alguém que me ensinou muito quando ingressei no que na época era Druidismo, a Fê Peretti. A conheci no falecido grupo do Yahoo Creideamh, organizado pelo Bob Kaucher para auxiliar na construção da Ordem Druídica do Brasil. A Fê era - sempre foi - uma grande compartilhadora de conhecimento. Pessoa generosa, sempre fez questão de traduzir e publicar gratuitamente todo tipo de material relacionado aos Celtas - fossem ritualísticas do Apple Branch, fossem lições de Irlandês, fossem contos mitológicos.

Quando ela morava no Rio fazíamos rituais juntas, ela era minha Tuath, mas atualmente ela vive em SP e anda um tanto afastada da internet. Consegui essa entrevista pelo Whatsapp, em que ela falou da forma simples e coloquial com que ela sempre se comunicou, transbordando humildade. Na hora de transcrever dei uma revisada no internetês e conectando melhor uma ideia à outra, mas a essência das respostas está aí. Obrigada, Fê, mais uma vez, pela sua generosidade!

(Parte I)

1 . Identidade. Como você se intitula, como chama sua prática religiosa? Na sua opinião, o que distingue sua prática de outras dentro do Paganismo Celta?

Eu chamo minha prática religiosa de Reconstrucionismo Celta, apesar de não ser puro. Talvez o fato de tentar ser o mais próximo do que a gente tem de conhecimento sobre os celtas seja o que distingue minha prática das outras.

2. Coletividade. Você pratica sozinho ou em grupo? Pertence a alguma tribo, ordem, coven, clã? Como se dá a entrada de novas pessoas no seu grupo? Há títulos ou hierarquia de algum tipo em seu grupo? / 3. Devoção. Você é pan-céltico ou exclusivo de alguma nação (irlandesa, escocesa, ibérica, galesa, etc)? Como você escolheu seu panteão? Há divindades específicas pelas quais você tenha devoção? Há algo que você possa acrescentar a respeito dessa devoção?

Eu trabalho sozinha. Sigo uma nação específica - a Irlandesa - porque me senti melhor com ela. Tenho divindades específicas pelas quais tenho devoção, mas não sei o que acrescentar.

4. Prática. Que elementos compõem sua prática? Há ritos? Orações? Oferendas? Roda do Ano Norte, Sul ou Mista? Datas destinadas a determinadas divindades? Há uso de altares, objetos mágicos ou simbólicos, ervas, flores, alimentos ou cristais?

Na minha prática há oferendas (um presente por outro presente), ritos, orações. Rodo pela Roda Sul mas não faço ritos para solstícios e equinócios, apesar de celebrá-los de maneira simples. Tenho um altarzão com alimentos e bebidas, estátuas, objetos mágicos e afins.

5. Ancestrais e Espíritos da Terra. Na sua prática há algum culto a Ancestrais, sejam eles culturais, físicos ou locais? Há introdução de elementos negros ou indígenas? Há oferendas? Orações? Símbolos? Datas específicas?

Para os ancestrais há oração, há o culto de forma simplória, mas não há oferendas e sim somente orações. Não há introdução de elementos negros ou indígenas.

(Parte II)

1. Como se dá isso de um presente por outro presente?

Um presente por outro é quando você oferece algo em agradecimento por ter conseguido uma coisa que você queria. Por exemplo, eu ofereço uma cerveja por ter conseguido achar uma diferença de caixa, ou ofereço uma vela pela operação da minha mãe ter ido bem (eu pedi com antecedência). É como se fosse uma promessa, mas é um presente na realidade, porque eu ofereço mesmo quando não pedi antes, pode ser uma fruta, uma refeição... sempre retiro do meu parto um pedaço de tudo o que tem nele e ofereço em agradecimento ao que recebi, tem até um pratinho e um copinho na minha pia só deles, onde coloco a comida e a bebida.


2. O que você considera um Reconstrucionismo Celta puro?

Recon puro até onde sei é aquele que segue estritamente as coisas que são encontradas em textos históricos, manuscritos medievais e achados arqueológicos sobre os celtas e criticam adaptações emprestadas de outras culturas. Tem muitos deles no meio celta, eles usam argumentos acadêmicos para nortear as crenças e as práticas, mas muitas vezes não se lembram que os tempos mudaram... povo esquece isso.

3. Eu conheço um pouco da sua trajetória, aprendi muito contigo. Sei que você começou muito jovem e prestou um grande serviço à comunidade, principalmente com suas traduções, sendo uma das suas principais características para a comunidade de pagãos celtas brasileiros a enorme generosidade em compartilhar conhecimento que você sempre demonstrou. Que materiais você indicaria para quem está começando, e que conhecimentos você considera cruciais para seguir o caminho que você segue?

Para seguir o Reconstrucionismo Celta eu recomendo em primeiro lugar ler o CR FAQ que está traduzido na internet. Sugiro ler o Mitos e Lendas Celtas da Angélica Varandas, a tradução deste livro está muito boa. É crucial para o caminho que sigo, na minha opinião, conhecer a mitologia e a história. Não precisa se tornar historiador, mas os mitos precisam ser estudados com afinco. Para saber como seguir um caminho você precisa conhecê-lo, né? Infelizmente a maioria dos mitos está disponível apenas em inglês, mas tem um povo realizando um trabalho bem legal de tradução para o português. [Nota da Entrevistadora: A Fê Peretti é a tradutora da única versão que temos atualmente em português do Lebor Gabála Errén, o Livro das Invasões da Irlanda, uma leitura crucial para quem quer estudar mitologia irlandesa e pode ser encontrada aqui: parte I e parte II.] Em inglês eu indico o Ancient Irish Tales (Tom Peete Cross), The Celtic Heroic Age (John T. Koch), The Tain (Ciaran Carson), Celtic Heritage (Alwyn Rees), Myths and Legends of the Celts (James MacKillop) e The Apple Branch (Alexei Kondratiev). Acho bom ler qualquer coisa escrita pela Erynn Rowan Laurie, não importa o que, ela é ótima. O The Apple Branch uso muito pelos rituais, eu adapto de um modo que dê para fazer sozinha, aí sento e conto os mitos e celebro.

4. Como nos conhecemos há muito tempo, também sei que você esteve afiliada à ADF. Como funciona o trabalho lá? Você ainda está envolvida com eles? Na sua opinião, quais são os aspectos positivos de afiliar-se a eles? E os negativos?

Eu amo a ADF. O trabalho deles é muito bom. Eu vou voltar a me afiliar agora no mês que vem e fazer o trabalho anual deles. A apostila iniciática deles é ótima, e a lista de livros que eles mandam ler é muito boa, li quase todos. O material deles é bastante light, te manda dar uma estudada na história mas o enfoque é bem maior na parte religiosa.

5. Há algo mais que você gostaria de acrescentar? :)
Achei essa entrevista tão bacana, me deu um up sabia? Não conhecia o Corrente RJ, porque passei a usar pouquíssimo o FB e estou por fora de tudo. Estou numa fase de "me deixa aqui no meu canto com meus Deuses que tô mo feliz assim". Se eu ainda morasse no Rio participaria do Corrente porque é com você. :)